terça-feira, 2 de setembro de 2008

O PEIXE

Era dezembro quando ele chegou à minha casa dentro de uma caixa de Sedex. Ele e mais dois. Nunca pensei que fossem resistir a uma ponte aérea Rio/SP num tubinho com tão pouca água e nenhum oxigênio. Ele tinha uns 3 ou 4 cm e era negro. Negro! Mas não deveria ser Blood Parrot? Só o tempo revelaria como seria. Na sua GTA o sexo: macho.

Foram-se uns 5 anos desde sua chegada. Ganhou um nome: Panayot. De origem grega, significa papagaio. O tempo passava e ele crescia com assustadora velocidade. Dobrava de tamanho e mudava as cores. Logo percebi que ele não era um Blood Parrot e sim um Tangerine. Seus olhos negros de antes tinham ganhado coloração verde brilhante e vivo. Olhos que observavam tudo a sua volta e que encaravam a mim do outro lado.

Cresceu e ficou maior que todos. Imponente e de cor vibrante, destacava-se dos demais.

Logo, seu temperamento forte começou a dominar. E junto veio os maus modos. Sempre aprontava e deixava todos desesperados. Dizimou muitos, menores e mais frágeis.

Mostrou-se um guloso, sua grande boca dava-lhe vantagem sobre os demais, que disputavam comida timidamente. Era para ser agressivo, mas não era de todo modo. O que fazia com os menores era a lei da natureza. Da sua natureza.

Fez amigos, com quem passava o dia a brincar para lá e para cá, para cima e para baixo entre as bolhas. Superou enfermidades que culminaram na extinção dos demais, pouco a pouco.

Agora estava quase só. Ele e mais dois. E uma imensidão a sua volta. Reinava soberano nos limites entre as quatro paredes de vidro.

Passou a ser o centro das atenções e gostava disso. Rodopiava, subia e descia, ia de um lado para outro, movia pedras, tudo para ganhar atenção. Gosta de pessoas, adora que se aproximem. Desconfio até que me conhece, pois quando chego em casa e me aproximo, sou recebida com uma grande festa. Só falta falar. Se pudesse falar, não sei o que me diria, talvez um : -Que bom que você chegou!

E domingo quase te perdi. Por uma distração, deixei que enchessem sua casinha com água clorificada. Quando percebi, você já estava intoxicado pelo cloro, parado e apático.

Seus olhos verdes vivos, perderam o brilho. Olhar de peixe morto. respirava com dificuldade, não comia, não interagia.

Fiz de tudo para reverter o processo. Dia e noite te vigiando. Não via sua melhora. Um morreu. pensei que você seria o próximo. Ontem cheguei em casa com a aflição de te encontrar morto. Mas continuava lá, parado, no mesmo canto, sem comer. Só os seus olhos me acompanhavam.

Até que sem menos esperar você reagiu. Seus olhos começaram a ganhar o antigo brilho e você começou a rodopiar na minha frente acompanhando meus gestos. O velho Panayot estava de volta! Meu reizinho voltou a reinar!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, não podia imaginar como um peixe podia ser tão representativo e ter tanta personalidade, me surpreendo. Talvez por isso mesmo ele seja tão resistente e sobrevivente. Vejo que no dia que ele se for, será uma grande perda. Então, aproveite os momentos que ele ainda está perto de você. É sempre bom ter esse tipo de contato com seres vivos de diversas espécies. Até eu passei a gostar do seu peixe, mesmo sem conhecer-lo.

Chris disse...

Posso garantir que todos que conhecem meu peixe se apaixonam por ele.