sábado, 16 de agosto de 2008

LEMBRANÇAS DE ALÉM

Além Paraíba é uma cidade que fica há cerca de 4h do Rio. Já é distrito de Minas Gerais, apesar de ser uma quase divisa do Rio. Possui poucos habitantes e sobrevive da agricultura e pecuária, já que trata-se de cidade interiorana rural. A cidade é cortada pelo rio Paraíba do Sul, o mesmo que há uns 5 anos tirou a vida de um primo meu, ainda criança. Foi lá onde minha mãe nasceu e se criou até os 20 anos com seus 7 irmãos. Lá também conheceu meu pai, que estava apenas de passagem. Seria a sua última aventura futibolesca e o início de uma nova vida. Faço muita força para resgatar na lembrança as memórias de Além. Há 15 anos, pelo menos, não vou àquela cidade. Quando pequena, ía quase todos os anos.
De meu avô não lembro, morreu quando tinha 5 anos. E pelo que comentam, melhor nem tê-lo conhecido. De minha avó, recordo pouco. Sua última visita à minha casa foi quando tinha 16 anos. Pouca convivência. A palavra avó, vovó, não fez muita parte do meu vocabulário nos últimos tempos. A única que tenho viva, já que desconheço avós por parte paterna. A distância, apesar de não muita, nunca me permitiu uma maior aproximação e me negou ter o carinho de uma segunda mãe, já que da própria não tenho.
De meus tios, tão pouco tive contato. A única presença viva foi de minha tia Clarinda Linda que viveu conosco no Rio até meus 12 anos. Mas essa já ganhou sua vida e seguiu seu caminho. Mas dela, tive carinho.
Madrinha tenho. Mas também não tenho. Quando fiz 15 anos enviou-me R$ 100. Foi tudo que me deu até hoje. Minha madrinha é minha tia, irmã de minha mãe. Vive em outra minúscula cidade do interior de Minas, Estrela Dalva.
Primos, além do que o rio levou e Gabriela, não os conheço. Assim também como não conheço a parte italiana de minha família. Nem sei se estão vivos meus antepassados. Não devem nem saber da minha existência.
Minha família é essa, simples, rústica, bronca, crua, repartida. Não me deu amor, ou se deu, não me lembro, não ficou registrado aqui dentro ou se perdeu no espaço do tempo, ou ainda, não entendi as demonstrações tortas de afeto. Agora compreendo de onde não aprendi a amar e da minha falta de habilidade em demonstrar carinho e afeto.
Hoje estive pensando e já estava pensando há algum tempo, quebrar esse espaço vazio de mais de 15 anos, e ir a Além. É... em outubro estarei em Além.

2 comentários:

Nana disse...

Chris, eu sei tão bem o que é crescer sem carinho de mãe... A minha mãe sempre foi atenciosa do jeito dela, mas carinho, contato físico, aquele colinho de mãe que todo mundo adora, isso nunca tive.

Família, não sei se dói mais ter tido uma família unida e vê-la se desfazendo ou nunca ter tido sequer a experiência da família unida.

De qualquer forma, tudo na vida é passageiro e superável, felizmente! Hoje em dia cheguei à conclusão de que preciso de muito pouco pra viver e isso tem sido, de certa forma, engrandecedor e gratificante. Só sinto falta mesmo de estar perto dos meus amigos, poder abraçá-los, mas essa distância física também faz parte do pacote de minhas escolhas pessoais, né?

Beijão, querida! :)

Anônimo disse...

Chris, por muito tempo eu passei sem saber gostar ou demonstrar afeto aos outros, como uma certa incapacidade do meu eu. Agia de forma as vezes até agreciva em relação ao afeto, e nesse ponto entendo seu ponto de vista. Mas sei que tudo isso é muito triste, e vejo muita tristeza e solidão no seu texto, já que por muito tempo vivi assim: triste e solitário.
Porém, as coisas sempre podem mudar, e sempre estão mudando, por mais que não venhamos a perceber. E creio que podemos mudar o que há dentro de nós para mudar o que existe fora, no nosso ambiente, a nossa volta. Assim é que eu tenho feito, e do contrário nunca teria te conhecido. Espero que um dia você possa entender o que eu tentei te dizer nessas linhas escritas aqui. Existe um significado maior que ainda não sei exprimir em palavras, ainda.